Diziam que o mundo acabava anteontem. Bem, eu ainda aqui estou. Mas o «nós» que éramos já não (será que chegou a existir?). Passei contigo o suposto fim do mundo e tu, para não dizeres que não acabou nada, decidiste por fim no que tínhamos. Achava eu que tínhamos. Pegaste em todas as memórias que tinha nossas, fizeste com elas uma bola e chutaste-a para fora do campo. «Não era só um jogo?» perguntaste tu. Não, não para mim. Mas agora, com o fim do que durante dois meses foi o meu mundo (quão ridículo isto soa? Pois, concordo), deu-se o início de uma nova Era - de certeza que era disto que os Mayas falavam. Uma nova Era da qual tu, Tom, não fazes parte e na qual nunca mais entro em nenhum jogo, pelo menos em que não seja eu a treinadora. Em que eu valha mais e não duvide de mim mesma, como outrora aconteceu.
Ai, o que me consola é saber que mais cedo ou mais tarde tu vais estar aqui, na posição em que eu estou. Porque a pessoa que tem o teu mundo, caro Tom, também o não quer se não para jogar; e quando menos esperares, vai chutá-lo para fora do campo como tu fizeste com o meu. E aí, pode ser que te lembres de mim e tentes apanhar a bola que em tempos chutaste. Pois bem, não a vais encontrar.
- Penélope Sempere