domingo, 23 de dezembro de 2012

O Fim do (meu) Mundo

Diziam que o mundo acabava anteontem. Bem, eu ainda aqui estou. Mas o «nós» que éramos já não (será que chegou a existir?). Passei contigo o suposto fim do mundo e tu, para não dizeres que não acabou nada, decidiste por fim no que tínhamos. Achava eu que tínhamos. Pegaste em todas as memórias que tinha nossas, fizeste com elas uma bola e chutaste-a para fora do campo. «Não era só um jogo?» perguntaste tu. Não, não para mim. Mas agora, com o fim do que durante dois meses foi o meu mundo (quão ridículo isto soa? Pois, concordo), deu-se o início de uma nova Era - de certeza que era disto que os Mayas falavam. Uma nova Era da qual tu, Tom, não fazes parte e na qual nunca mais entro em nenhum jogo, pelo menos em que não seja eu a treinadora. Em que eu valha mais e não duvide de mim mesma, como outrora aconteceu.
Ai, o que me consola é saber que mais cedo ou mais tarde tu vais estar aqui, na posição em que eu estou. Porque a pessoa que tem o teu mundo, caro Tom, também o não quer se não para jogar; e quando menos esperares, vai chutá-lo para fora do campo como tu fizeste com o meu. E aí, pode ser que te lembres de mim e tentes apanhar a bola que em tempos chutaste. Pois bem, não a vais encontrar.
- Penélope Sempere

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

I

Querido Patrick,
Há histórias que começam mas que nunca acabam. Tu és uma delas. Prolongaste pelo tempo e cada dia que passa deixas uma pegada mais vincada nas páginas da minha vida. Adoro os capítulos em que falas comigo, em que te preocupas, da mesma maneira que odeio os dias em que não te vejo. Ai Patrick, se tu soubesses ... !
Aguardo ansiosamente o dia em que seremos os dois os autores desta história. Mas para ti não passo de um livro algures numa prateleira.

Com (demasiado) amor,
Marianne Dashwood.

Consciência Inconsciente

Acorda. Acorda estúpida. É só mais um sonho. Mais um dos mil que tens sonhado de dia. E a culpa é tua Tom. Enquanto contracenaste comigo noite após noite eu não me importei, na verdade até gostava de adormecer e ver as cortinas vermelhas abrir. Era sinal de que o nosso teatro ia começar. Agora decidiste apoderar-te também dos meus dias. Adormeces-me de olhos abertos, puxas-me pela mão e obrigas-me a entrar em cena. Não quero, não vês? O nosso palco parece estar a ficar cada vez mais pequeno, está a encolher até que um de nós caia. Quase adivinho quem será. Porque é que em vez de tudo isto não me puxas antes para longe e me dizes que não queres representar mais? Que já vivemos demasiado tempo no faz-de-conta? Sim, porquê?! Acorda. Acorda estúpida. Ele não existe se não em cima de um palco, na tua imaginação.
- Penélope Sempere

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Saudações Cardíacas

Penélope e Marianne aqui. Aqui, ali. Estamos por aqui. O aqui é o ali de ali. E o ali é o ali daqui. Estamos em todo o lado. Em todo o lado menos onde realmente queremos estar. Fuck it. O Mundo vai acabar de qualquer maneira e provavelmente vamos todos parar ao mesmo sítio. Mas enquanto não nos dissipamos em mais uma estrela cadente vista de qualquer outro mundo, por qualquer outras duas criaturas como nós, aquecidas pelo frio, ficamo-nos por aqui. A escrever... a escrever para sermos ouvidas, quando os ouvidos que nos interessam estão tapados pelas nossas mãos.